Pastel com caldo de cana

Quando eu acordo cedo pra ir trabalhar eu chego atrasada, quando acordo atrasada eu chego atrasada do mesmo jeito. Então vou acordar todos os dias atrasada.

O lado bom de ter acordado cedo hoje é que quando estava no transito eu vi meu orientador de monografia. Que saudades me deu dele, um coroa gente boa, me protegia pois era amigo do meu pai, me colocou em uns esquemas quentes pra produzir minha monografia, alias quem quiser alguma coisa sobre Operações de Paz das Nações Unidas pode contar comigo tá? Voltando ao assunto, enquanto eu estava lá num transito chato, tudo porque uma jovem senhora bateu num moço de moto, eu olhei para o retrovisor e vi meu orientador. Nessa hora me toquei que faz um tempão que eu formei e nem sinto saudades da faculdade, nem das aulas, dos professores (com suas raras exceções), nem do pastel com caldo de cana...

Na época da faculdade existia uma pequena máfia composta por eu e mais três amiga, Peixinho (apelido que o professor de Língua Espanhola deu pra ela), Tesouro (apelido que nós demos pra ela, por causa de um professor bem charmoso que tínhamos), Jacke (que era Jacke mesmo) e eu Miss Pink (apelido tb que o professor de Espanhol me deu, só porque eu tinha dois ternos rosa e meu fichário, estojo, canetas, lapiseira e blá blá blá eram tudo rosinha).

No final do curso as aulas aos sábado eram inevitáveis e então para não perder nossos sábados fazíamos alguns eventos sociais, um sábado era churrasco, outro almoço, outro churrasquinho no boteco, outro passear no shopping e o preferido (naquela época é claro) pastel com caldo de cana. Era o preferido porque era barato, afinal tínhamos que gastar uma pequena fortuna comprando xerox e mais xerox. Se eu me lembro bem pagávamos R$ 1,00 (um real) pelo caldo de cana e tomava a vontade e o pastel deveria custar uns %$ 0,50 (cinquenta centavos).

Um sábado de muita luz e sol fomos para o nosso "rodízio" de caldo de cana, chegando lá pedimos nosso caldo e os pasteis, quando fomos pedir a segunda rodada de caldo os funcionários vem me informar que havia acabado a cana... Ah pra que, nessa hora meu espírito de defensora dos direitos do consumidor falou mais forte, falei pro gerente que ele era obrigado a fornecer outro produto em substituição ao caldo de cana, tendo em vista que já tínhamos pago pelo "rodízio", nem sei se eu estava certa ou errada, sei que eu dei um pity básico. Então o gerente nos forneceu suco, até porque lá também tinha a opção de "rodízio" de suco. Tomamos acho que dois copos de suco e a matéria prima do caldo de cana chegou. Juro que se eu soubesse o que iria acontecer eu tinha ido embora naquela hora. Os funcionários perguntaram se a gente queria voltar a tomar caldo de cana, a resposta foi que sim!

Pra se vingar, os caras começaram colocando dois litros de caldo pra gente tomar, tomamos tranquilo, antes de terminar a jarra eles colocaram mais dois litros e a gente tomou meio que na marra, quando estava terminando e a gente se preparando pra ir embora eles colocaram mais um litro de caldo, esse foi tomada a força, olhávamos uma pra cara da outra quase suplicando por misericórdia, esse ultimo litro foi dividido irmanamente. Cada gole doce do caldo tinha o gosto de veneno, descia arranhando garganta abaixo. Terminamos e fomos embora...

Eu ainda tinha que enfrentar cerca de 50 minutos de condução até chegar em casa. Foram os 50 minutos mais sofridos da minha vida. Engraçado, parece que a cana tinha fermentado, eu estava totalmente embriagada, um sono sem explicação, mas esses eram os melhores dos sintomas, tanto eu, quanto minhas amigas tivemos dor de cabeça, náuseas, piriri, sem falar no repudio que ficamos do caldo de cana, lembro que era justamente quando ocorreu um problema em Santa Catarina que as canas estavam infectadas pelo barbeiro, achei que iria morrer, que estava com a Doença de Chagas, foi a pior experiência da minha vida e um dos momentos mais inesquecíveis da época da faculdade.

Sem duvidas depois desse dia NUNCA MAIS eu tomei um gole de caldo de cana!