OS IMORTAIS
Dos vales terrenos
chega até nós o ensaio da vida:
impulso desordenado, ébria exuberância,
sangrento aroma de repastos fúnebres.
São espasmos de gozo, ambições sem termo,
mãos de assassinos, de usuários, de santos,
o exame humano fustigado pela angustia e pelo prazer.
Lança vapores asfixiantes e pútridos, crus e cálidos,
respira beatitude e ânsia insopitada,
devora-se a si mesmo para depois se vomitar.
Manobra a guerra e faz surgir as artes puras,
adorna de ilusões a casa do pecado,
arrasta-se, consome-se, prostitui-se todo
nas alegrias de seu mundo infantil;
ergue-se em ondas ao encalço de qualquer novidade
para de novo retombar na lama.
Já nós vivemos
no gelo estéreo transluminado de estrelas;
não conhecemos os dias nem as horas,
não temos sexos nem idades.
Vossos pecados e angústias,
vossos crimes e lascivos gozos,
são para nós um espetáculo como o girar dos sóis.
Cada dia é para nós o mais longo.
Debruçados tranquilos sobre vossas vidas,
contemplamos serenos as estrelas que giram,
respiramos o inverno do mundo sideral;
somos amigos do dragão celeste:
fria e imutável é nossa eterna essência,
frígido e astral o nosso eterno riso
O Lobo da Estepe - Herman Hesse
domingo, 28 de março de 2010
Os imortais
Postado por Ingrith às 23:13
Marcadores: Sentimentos
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Chiquérrimos! Deve ser mesmo um assombro para um imortal observar as coisas que acontecem com a gente aqui no plano de baixo! E fomos num todo muito bem descritos muito bonito o texto.
Beijos
Ingrith, Lindo poema...
Não conheço Herman Hesse... vou procurar!!!
Beijos e tou te seguindo!
Postar um comentário